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Brinque como um indígena: o Brincar como sinônimo de identidade e territorialidade

Patrícia Navarro 


Coordenadora da Área de  Antropologia DCHF/UEFS
Coordenadora do Anjuká - Centro de Memória dos Povos Indígenas do Nordeste

 

Os povos indígenas, ao longo do seu processo histórico, têm nos mostrado sua imensa diversidade e possibilidades de resistir às pressões impostas pelo colonizador ao longo dos séculos. Os processos identitários e de resistência  desses povos se relacionam  de muitas formas com o território em seus muitos significados. A Cultura, que representa o alicerce para construção da diversidade do ser humano em geral, representa, para indígenas, algo imprescindível para manutenção da sua identidade, sua territorialidade seus processos cognitivos, elementos que forjam a imensa diversidade dos povos e comunidades tradicionais em todo o mundo.

O brincar para os povos indígenas, como veremos na presente exposição, está intimamente ligado à territorialidade e às suas inúmeras possibilidades e representações. Para os indígenas, um rio não é somente um rio, uma montanha não é somente uma montanha; os elementos da natureza, que via de regra, integram as brincadeiras nas aldeias, em geral compõe um conjunto que enseja, muitas vezes, até mesmo relações de parentesco, como nos lembra Ailton Krenak (2019) ao se referir ao Rio Doce como Watu, uma pessoa, um avô para o povo Krenak e “não somente um recurso como dizem os economistas”.

Brincar, nesse sentido, toma uma conotação de aprendizado e de ligação com esses parentes humanos e “não humanos”, a terra, o rio, as serras, as árvores, a argila etc., elementos comumente utilizados nas brincadeiras ou presentes nos ambientes em que se brinca. Não obstante as dinâmicas e mudanças culturais pelas quais passaram e passam todas as culturas humanas, e de toda violência enfrentada pelos povos originários ao longo do tempo, os povos indígenas guardam como um tesouro o sentimento de pertencimento ao seu território ancestral o que é refletido também no modo de brincar, que é, sem dúvida, uma forma de aprender a ser indígena, pois, as brincadeiras os remetem cotidianamente à essa ligação profunda e perene com sua ancestralidade, ensejando a potencialidade para pensarem o futuro.

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